Verônica, o que você fez?
Escrevi um livro. Tinha o material, eu mesma editei e, mais que tudo, tinha dinheiro.
O que te levou a escrever?
Escrevi o livro por necessidade de dividir com as pessoas conhecimento de uma coisa que considero tão boa e porque senti ("numerolorria") que era o momento. Algo dentro de mim queria sair e esta foi a forma. Felizmente tive como fazê-lo. Quis o destino (frase comum em algumas literaturas) que meu emprego saísse de mim, gastei muito com contas nesse ano desempregada, mas ainda assim, consegui guardar parte do dinheiro para concluir a obra. Com ajuda de minha irmã e dos meus pais, até hoje, continuo trabalhando neste projeto. Ah, consegui um emprego de cucursada do Estado este ano pra dar uma força e eu continuar investindo neste negócio de viagem.
Você, como uma nova editora, sem conhecimento do mercado, como disse, o que pode falar para nós que gostaríamos de escrever, digamos, um livro de aventura?
Comercializar livro sem ter alguma grana de apoio parece-me bem difícil. Principalmente quando você é desconhecido no mercado. Minha sorte é ser autora e editora porque senão teria que dispender mais dinheiro do que já investi. Aliás, isto já aconteceu. Outra coisa que estou tentando fazer é venda direta para que o lucro não se dissipe no caminho entre distribuidora (5 a 10%) e livraria( coisa de 50 a 60% do preço de capa). Desta forma o preço do livro fica baixo e o lucro fica todo com nossa editora. Para conseguir obter lucro mesmo, deveria vender, pelo menos, 5 livros/dia. Perguntem quantos vendo: tenho dias sem me desfazer de um.
Como você está fazendo com a divulgação?
Para divulgar o livro tive apoio de amigos futuros mochileiros, blog de amigos e este meu, Orkut, comunidades voltadas para turismo, divulgação em algumas mídias, familiares que compram por orgulho do parente e para ajudar, amigos que compram por consideração e para ajudar e pessoas que realmente estão precisando da orientação, gostam e passam adiante no boca a boca, aliás, uma das melhores ferramentas.
E como estão sendo as vendas?
No primeiro mês de vendas (janeiro) tudo foi animador. Vendi mais de 100 livros. Metade foi comprado por parentes, amigos que estão aprendendo a mochilar ou são mochileiros e alguns poucos que viram ou ouviram através dos meios de comunicação. É aí que a coisa começa a apertar. Ainda tenho muitos chegados que não adquiriram o livro. E quando acabarem os chegados?
E por onde você está comercializando o livro?
Só comigo e pela internet. Mas ainda não tenho programa. A pessoa tem que falar comigo e fazer o pedido. Alguns dos problemas que temos em venda direta pela internet são:
-muitos se interessam, mas deixam para adquirir depois. Aí, acabam se esquecendo ou perdendo o interesse. Não estão com pressa de saber poruqe muitas vezes nem tem planos pra viajar
- outros querem o livro, mas tem receio de fazer depósito em conta. Admito que também tenho e compreendo. Ninguém se conhece
- querem o livro imediatamente, ou seja, em livraria, e tenho que explicar que por ora tento evitar dissipar o lucro
- não reconhecem a aquisição do livro como algo que vai fazer com que economizem mais adiante. Isto é uma questão de trabalhar melhor a divulgação.
Qual a dificuldade de fazer um livro quando você é totalmente leigo?
Sem contar a parte burocrática, vamos falar do livro em si. Tem bastante coisa que temos que saber como:
Qual o formato do seu livro?
Vai ter imagem? Se tiver, será colorida ou preta e branca? Ficarão em um caderno (o que é isso?) ou espalhadas pelas páginas?
Qual o tipo de papel e gramatura?
Qual fonte usará?
Quantas páginas terá o livro? Quais programas você tem para diagramação de seu livro?
Meu, sabe o que é toda vez que você altera uma palavra o bloco de texto mover e mudar a quantidade de páginas? Isto acontece. Tratar as imagens para ficarem com boa qualidade, escolher a fonte certa e o espaçamento ideal para que fique fácil a leitura, conseguir um visual elegante e fazer uma boa revisão para evitar tanto erros de digitação como gramaticais, ou históricos, geográficos... Sofri com tudo isso por sete meses. Tentei fazer o melhor com meu parco conhecimento e com a generosidade de um Editor, o Carlos Monteiro, da Editora ASA, que recebeu Eber e eu em seu escritório e dividiu conosco tudo o que podia, tanto por ter noção de que o mercado era difícil, como por saber os riscos que uma editora nova, com um livro só, e sem fundos, pode passar. Ainda existe isso no mundo; gente que sabe que é importante dividir e que ajudar o outro enriquece mais.
Tento, até agora, diminuir os custos da empresa. Quero começar a vender por programinha pela internet. Acho que vai ajudar bastante. Muitas pessoas preferem a impessoalidade neste mundo da net. Se bem que é isto que quero mudar. Quero gente falando comigo, marcando pra gente se conhecer, batendo papo para que eu possa conhecê-la e assim ter maior facilidade para ajudá-la.
Se você tem grana para produzir seu livro, basta saber se você quer presentear pessoas ou se quer comercializá-lo. Se seu objetivo é ao menos zerar seu investimento, é interessante que tenha uma lista de pessoas para oferecer. Amigos e familiares são os primeiros. Dependendo do assunto, busque pessoas interessadas. Se você tem o material, mas lhe falta a grana, a coisa pode ficar mais complicada. Se for um material de qualidade e de interesse geral vale a pena tentar uma editora grande, com perfil para seu livro.
Daí é fazer pesquisa com as editoras, mandar um material bem organizado, limpo, bem escrito para você ficar o mínimo decepcionado, caso receba uma carta de agradecimento pelo envio do material, mas sem qualquer interesse da editora por pubicá-lo. Você tem que fazer sua parte enviando um material "apresentável".
Se seu material tiver perfil cultural, educativo, você pode tentar fazer uso de Leis para o incentivo cultural de nosso MEC, como a Lei Rouanet, que está sofrendo diversas alterações que estão desanimando os empresários que topavam este tipo de patrocínio.
E patrocínio, você tentou com empresas da área esportiva, turismo?
Buscar patrocínio, sendo desconhecido, ou sem contato com alguém chave para isso, também é complicado. Procurei patrocínio antes do lançamento do livro para poder, pelo menos, cobrir parte do custo do material e fazer a publicidade de alguns produtos que se identificavam com meu livro. O problema é que eu sou ninguém para o mercado consumidor. "Que livro escreveu antes?" "Gostariamos de ver o produto pronto". Como vou dar o produto pronto se preciso do apoio pra finalizar? Posso mostrar uma boneca mais ou menos, mas preciso de uma reunião e o material ficará assim se VOCÊ puder patrocinar. Senão vai mudar tudo. É difícil até você acertar um horário para conversar com estes possíveis investidores. Ninguém quer ter prejuízo, claro! Mas existe muito medo no mercado. Algumas quotas de patrocínio são tão pequenas, dependendo da empresa, e atingem o alvo com tanta força se feito desta forma para o mercado específico, mas as empresas querem focar sua renda de publicidade para mídia de massa. ”Brasileiro não lê!” Eu já diria que AS PESSOAS FAZEM O QUE É INTERESSANTE A ELAS e hoje, num mundo onde economizar é mandatório, elas procurarão e analisarão qualquer assunto que fale em benefícios financeiros, seja o assunto que for. Depois veem se o assunto interessa, mas primeiro vem a mente as palavras ECONOMIA E BENEFÍCIO.
Certo. Agora que você falou bastante sobre o que captou com sua SAGA DO LIVRO DE MOCHILÃO, quais suas dicas para pessoas que queiram escrever sobre viagem, como relatos de suas aventuras, ou que queiram já transformar seus blogs em livros?
Visite livrarias, analise as tendências de capa e faça algo que misture esta tendência e algo diferente. Imagine se você for colocar seu livro de viagem de LOMBADA colorida junto a tantos outros com a mesma tendência. Veja o que está muito igual e seja diferente, chamativo, mas elegante aos olhos.
Vomite tudo o que tem em você e depois comece a organizar e limpar seu texto. Evite muitas limpezas, ou seu trabalho será a Pedra de Sísifo que termina sempre voltando para o início.
Resista as alterações do texto. Uma vez que considerou um capítulo bom, só altere-o se outros capítulos lhe remeterem a um equívoco feito neste. De outra forma, suma com ele porque senão vai cair no Sísifo.
Ponha ilustrações com boa definição. Olhar borrão desanima o leitor. Aliás, uma das primeiras coisas que o leitor vê em um livro que contém ilustrações são AS ILUSTRAÇÕES que já dizem muito sobre o que pode conter os textos.
Fale sobre como fazer o que você fez, além de contar seu relato da viagem.
Deixe a poesia para os romances. Seja você. Esta coisa de “o sol jogava raios que alongavam ainda mais meus horizontes”, deixe para José de Alencar. Tá! Tem gente que gosta, pra visualizar, mas isso faz as pessoas focarem em algo que pode ser desnecessário e tirar a atenção da viagem em si, ou de coisas mais intensas, como “o sol jogava raios nas ondulações do mar e refletiam no dorso de uma jubarte que passava próxima ao navio na costa de Santa Catarina. É mês de agosto e fico feliz por estar aqui nesta época.”
Estabeleça uma conversa com o leitor. Como se estivesse escrevendo uma carta, uma missiva (ui!) para um grande amigo. Seja sincero.
Cuidado com DIREITOS AUTORAIS. Sempre cite fontes claramente para não acharem que aquela letra de música foi você quem fez. "Mas quais são as palavras nunca são ditas?" O poeta já disse "meus versos não são meus", mas os direitos autorais dizem outra coisa porque dinheiro fala. Viver de poesia é para poucos. Viver da arte é para poucos. Não deveria ser assim, mas isto é um outro assunto
Tenha consciência de que tudo que você escrever terá consequências e poderá ser usado contra você, então pense bem antes de escrever palavrões, criticar algo negativamente. Ser positivo e saber respeitar qualquer coisa é muito importante para que o texto siga degustável. Se for comentar algo negativamente, também é possível fazê-lo com nível. Mas se seu estilo é despojadão e você sabe que dá conta, isto só vai tornar tudo mais atraente. Pelo menos é o que eu acho. E aí é melhor cair para o cômico.
Informações transitórias devem ser evitadas ou alertadas de sua evanescência
Dê um perfil para seu livro – texto jovem/sério/ cômico/ jornalístico. Seja íntimo, seja engraçadinho, mas certifique-se de que sua gracinha tem uma finalidade boa para o livro.
Escreva o livro como sua jornada – começo, meio e fim. A não ser que você vá escrever crônicas. Aí você pode até já avisar o leitor para ele saber que o importante são as histórias e não o momento em que ocorreram. Sem chamar o leitor de burro, é legal a conversa com ele antes de contar a jornada, ainda mais que tô torcendo pra gente que nunca imaginou ler algo deste estilo pegar e entender de vez tudo. Nada de achar coisas complicadas. VOCÊ fez, caramba! Por que o leitor vai ser um "cabeça" incapaz de um dia fazê-lo? Esperança, gente!
Foque mais em um ponto de sua viagem – referente a aprendizados, a pessoas que conheceu, ou lugares diferentes, por exemplo.
Faça uma boa sinopse para a quarta capa e para as orelhas. Se conseguir que alguém mais conhecido da área de viagem dê sua opinião sobre o livro, é algo que dará credibilidade ao texto.
Pode falar sobre custos?
Cada trabalho tem o seu. O meu saiu um valor. O seu vai sair outro se você fizer com mais páginas, outro material, não puser fotos e conseguir um desconto, por exemplo, pagando à vista, como eu fiz. Nem adianta falar que vai fazer com o mesmo número de páginas que eu. Nem eu farei mais como fiz. Farei melhor. Usarei mais páginas, gastarei um pouco mais e deixarei o material mais elegante. Se você só tiver a capacidade de escrever poderá entrar em contato com uma gráfica e editora e vender seu material, se for considerado rentável. Se você tiver grana e for incapaz de escrever, mas tiver uma boa história, contrate um GHOST WRITER, como muitos escritores famosos fazem. Esta criatura pegará sua idéia, ou suas anotações, organizará e fará dela um trabalho digno de um livro. Tudo pago, claro, a não ser que o bendito seja seu amigo. Ter um revisor que não te cobre, como um amigo conhecedor (mesmo) da gramática, também ajuda bastante.
Se você conseguir editar seu livro, poderá ir a uma gráfica e ter somente o custo da produção. Se você conseguir patrocínios poderá ter os custos todos cobertos, lembrando que o patrocinador poderá ter peças prontas que ele escolherá onde quer colocar, ele poderá pedir exclusividade e, poderá sim, confiar que você fará o melhor por ele já que ele está viabilizando seu projeto. O patrocinador também pode solicitar uma quantidade de livros para uso próprio. Tenha tudo acertado antes.
O ISBN é solicitado somente no caso de venda em livrarias, jornaleiros, para acervos de biblioteca porque ele identifica seu livro e assunto em qualquer lugar do mundo. Se você vai fazer venda boca a boca e não faz questão de que tenham uma cópia de seu livro nos acervos da Biblioteca Nacional, acabou. É menos um gasto. Eu diria que é legal ter porque vai saber se seu livro bomba, aí você ainda vai ter isso pra resolver. AUDIO LIVRO tem número de ISBN também.
EU VOU FAZER AUDIO LIVRO!!! Mas só num dia mais pra frente.
Gráficas aceitam trabalhos acima de 1000 exemplares no caso de livros. Se você vai fazer livretos(menos de 50 páginas) é possível aceitarem um número menor. Tudo pode ser acertado em conversa.
Isto é um pouco do que sei e, mais uma vez, do que vivi, e espero que ajude quem está interessado em produzir seu próprio livro.
Coloco aqui alguns links pra quem quiser saber mais sobre os procedimentos para se escrever e produzir um livro. Tem links em inglês também: E botem a página no Google e mande tradutor nela!
http://mashable.com/2009/03/01/publish-book/
http://www.mesadoeditor.com.br/
http://www.papelenblanco.com/2007/01/30-como-escribir-y-publicar-un-libro-presentacion
http://www.primeirolivro.blogger.com.br/2004_01_01_archive.html
http://www.livronovo.com.br/
http://www.comoescreverumlivro.com.br/
http://publiermonlivre.free.fr/
http://www.youtube.com/watch?v=aaIPzxt_VEM
Depois boto umas fotos pq quero postar logo.
V for Verônica